quarta-feira, 13 de junho de 2012

ANTICONCEPCIONAL ORAL COMBINADO E O DESEJO SEXUAL


ANTICONCEPCIONAL ORAL COMBINADO E O DESEJO SEXUAL

Não existe ainda um consenso sobre os efeitos dos métodos hormonais sobre os exercícios da sexualidade, sendo assim, torna-se difícil traçar um padrão geral de correlação entre a ovulação e as variações do ciclo de resposta sexual, sendo conseqüentemente dificultado o conhecimento do que ocorre quando a ovulação é artificialmente inibida
Os Contraceptivos Orais Combinados (COCs) representam o método anticoncepcional mais utilizado em todo o mundo. Estima-se que 100 milhões de mulheres são usuárias desse método, que se caracteriza por sua elevada eficácia: a falha é de menos de um a cada 100 mulheres/ano com o uso perfeito (dose diária, em horário fixo), aumentando para 5 a cada 100 mulheres ano, com sua utilização típica. Em nosso país estima-se que 20% das mulheres em idade fértil utilizem os COCs .
Os contraceptivos orais combinados podem ser classificados pela dose estrogênica, denominados pílulas de alta ou baixa dose, ou pelo progestagênio, denominados de primeira, segunda ou terceira geração. O etinilestradiol é o estrogênio usado em todas as pílulas. O que varia é a sua dose, que justamente classifica as pílulas como de alta dose ou baixa dose ou ultra-baixa dose. Por outro lado, a geração do contraceptivo é dada pelo progestagênio nele contido, embora também se leve em consideração a dose estrogênica. As pílulas de primeira geração (disponíveis no mercado brasileiro) são aquelas que contém levonorgestrel associado a 50 µg de etinilestradiol. Doses menores de etinilestradiol, associado ao progestagênio levonorgestrel, caracterizam as pílulas de segunda geração. Na presença de desogestrel ou gestodeno as pílulas são denominadas de terceira geração..
 As principais motivações para rejeição da pílula em estudo de entrevistas foram relacionadas à sua baixa inocuidade. Os efeitos colaterais mais citados: náuseas, vômitos, dor de cabeça, enxaqueca, dor de estômago, azia, tonturas, mal-estar, irritação, nervosismo, aumento de peso, pressão alta, varizes, dor nas pernas, diminuição da libido. Esses efeitos adquirem importância para as mulheres a partir do impacto negativo em sua qualidade de vida .
Estudo com 60 mulheres comparando dois tipos de anticoncepcionais - alta e baixa dose de etinilestradiol - e seus efeitos nos níveis de androgênios e no interesse sexual, observou-se que houve diminuição dos níveis de androgênios com ambas as doses, porém menor com o anticoncepcional de baixa dose. Em relação ao escore de interesse sexual não houve mudanças significativas .
Panzer et al.  observaram que o uso de contraceptivos hormonais elevou os níveis séricos de SHBG e sua descontinuação por mais de 120 dias não levou ao retorno desses níveis aos valores de base. Os autores questionam os efeitos a longo prazo na saúde sexual, mental e metabólica desse aumento crônico de SHBG.
Evidências indicam que apesar de níveis altos de SHBG, em algumas pacientes que apresentaram desejo hipoativo com o uso de anticoncepcionais hormonais, o desejo sexual pode retornar ao normal em 3 meses após a descontinuação do contraceptivo .
Em 2006, um estudo com 61 mulheres e três diferentes doses de anticoncepcionais hormonais observou significante diminuição nos níveis de testosterona, testosterona livre e sulfato de dehidriepiandrostenediona. Entretanto, algumas mulheres não apresentaram queda no interesse sexual, apesar da redução da testosterona livre, e não foram afetadas no prazer da atividade sexual com o parceiro. Esses achados corroboram para a idéia de que algumas mulheres podem ser mais sensíveis às mudanças nos níveis séricos de testosterona que outras.
Em 2008, porém, uma revisão de literatura avaliou que estudos da influência da pílula na função sexual são contraditórios e a maioria dos estudos prospectivos, controlados não mostraram efeitos deletérios. Grandes estudos longitudinais também não identificaram relação entre testosterona e função sexual nas mulheres. Hormônios sexuais são um fator modificador da função sexual, porém, influências sociais e experiência são mais importantes .
Em 2005, estudo com mulheres usando anticoncepcional contendo drospirenona, uma progesterona de quarta geração, observou um aumento de prazer e satisfação sexual, além de frequência de ocorrência de orgasmo. Só não foi constatado aumento no desejo sexual
A relação de anticoncepção hormonal com disfunções sexuais ainda é controversa,os mais variados resultados foram obtidos: desde anticoncepcionais como causa de disfunções até melhora da sexualidade com o seu uso.
. A maioria dos estudos mostram  uma alteração real nos níveis sérico de androgênios, com diminuição de testosterona livre e aumento de SHBG com o uso de anticoncepcionais hormonais. Porém nem todos foram eficazes em relacionar essa alteração com mudanças na sexualidade e disfunções sexuais.
Ainda são necessários mais estudos, com metodologias rigorosas, analisando diferentes formulações e vias de administração, para se comprovar um efeito que é frequentemente visto na prática clínica, ou seja, uma importante porção de pacientes em uso de anticoncepcionais orais combinados queixam-se de diminuição do desejo sexual e apresentam alguma melhora na interrupção ou substituição do método.

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