ANTICONCEPCIONAL ORAL COMBINADO E O DESEJO SEXUAL
Não existe ainda um
consenso sobre os efeitos dos métodos hormonais sobre os exercícios da
sexualidade, sendo assim, torna-se difícil traçar um padrão geral de correlação
entre a ovulação e as variações do ciclo de resposta sexual, sendo
conseqüentemente dificultado o conhecimento do que ocorre quando a ovulação é
artificialmente inibida
Os Contraceptivos
Orais Combinados (COCs) representam o método anticoncepcional mais utilizado em
todo o mundo. Estima-se que 100 milhões de mulheres são usuárias desse método,
que se caracteriza por sua elevada eficácia: a falha é de menos de um a cada
100 mulheres/ano com o uso perfeito (dose diária, em horário fixo), aumentando
para 5 a cada 100 mulheres ano, com sua utilização típica. Em nosso país
estima-se que 20% das mulheres em idade fértil utilizem os COCs .
Os contraceptivos
orais combinados podem ser classificados pela dose estrogênica, denominados
pílulas de alta ou baixa dose, ou pelo progestagênio, denominados de primeira,
segunda ou terceira geração. O etinilestradiol é o estrogênio usado em todas as
pílulas. O que varia é a sua dose, que justamente classifica as pílulas como de
alta dose ou baixa dose ou ultra-baixa dose. Por outro lado, a geração do
contraceptivo é dada pelo progestagênio nele contido, embora também se leve em
consideração a dose estrogênica. As pílulas de primeira geração (disponíveis no
mercado brasileiro) são aquelas que contém levonorgestrel associado a 50 µg de etinilestradiol. Doses menores de
etinilestradiol, associado ao progestagênio levonorgestrel, caracterizam as
pílulas de segunda geração. Na presença de desogestrel ou gestodeno as pílulas
são denominadas de terceira geração..
As principais motivações para rejeição da
pílula em estudo de entrevistas foram relacionadas à sua baixa inocuidade. Os
efeitos colaterais mais citados: náuseas, vômitos, dor de cabeça, enxaqueca,
dor de estômago, azia, tonturas, mal-estar, irritação, nervosismo, aumento de
peso, pressão alta, varizes, dor nas pernas, diminuição da libido. Esses
efeitos adquirem importância para as mulheres a partir do impacto negativo em
sua qualidade de vida .
Estudo com 60 mulheres
comparando dois tipos de anticoncepcionais - alta e baixa dose de
etinilestradiol - e seus efeitos nos níveis de androgênios e no interesse
sexual, observou-se que houve diminuição dos níveis de androgênios com ambas as
doses, porém menor com o anticoncepcional de baixa dose. Em relação ao escore
de interesse sexual não houve mudanças significativas .
Panzer et al. observaram que o
uso de contraceptivos hormonais elevou os níveis séricos de SHBG e sua
descontinuação por mais de 120 dias não levou ao retorno desses níveis aos
valores de base. Os autores questionam os efeitos a longo prazo na saúde
sexual, mental e metabólica desse aumento crônico de SHBG.
Evidências indicam que
apesar de níveis altos de SHBG, em algumas pacientes que apresentaram desejo
hipoativo com o uso de anticoncepcionais hormonais, o desejo sexual pode
retornar ao normal em 3 meses após a descontinuação do contraceptivo .
Em 2006, um estudo com
61 mulheres e três diferentes doses de anticoncepcionais hormonais observou
significante diminuição nos níveis de testosterona, testosterona livre e
sulfato de dehidriepiandrostenediona. Entretanto, algumas mulheres não
apresentaram queda no interesse sexual, apesar da redução da testosterona
livre, e não foram afetadas no prazer da atividade sexual com o parceiro. Esses
achados corroboram para a idéia de que algumas mulheres podem ser mais
sensíveis às mudanças nos níveis séricos de testosterona que outras.
Em 2008, porém, uma
revisão de literatura avaliou que estudos da influência da pílula na função
sexual são contraditórios e a maioria dos estudos prospectivos, controlados não
mostraram efeitos deletérios. Grandes estudos longitudinais também não
identificaram relação entre testosterona e função sexual nas mulheres.
Hormônios sexuais são um fator modificador da função sexual, porém, influências
sociais e experiência são mais importantes .
Em 2005, estudo com
mulheres usando anticoncepcional contendo drospirenona, uma progesterona de
quarta geração, observou um aumento de prazer e satisfação sexual, além de
frequência de ocorrência de orgasmo. Só não foi
constatado aumento no desejo sexual
A relação de
anticoncepção hormonal com disfunções sexuais ainda é controversa,os mais
variados resultados foram obtidos: desde anticoncepcionais como causa de
disfunções até melhora da sexualidade com o seu uso.
. A maioria dos
estudos mostram uma alteração real nos
níveis sérico de androgênios, com diminuição de testosterona livre e aumento de
SHBG com o uso de anticoncepcionais hormonais. Porém nem todos foram eficazes
em relacionar essa alteração com mudanças na sexualidade e disfunções sexuais.
Ainda são necessários
mais estudos, com metodologias rigorosas, analisando diferentes formulações e
vias de administração, para se comprovar um efeito que é frequentemente visto na
prática clínica, ou seja, uma importante porção de pacientes em uso de
anticoncepcionais orais combinados queixam-se de diminuição do desejo sexual e
apresentam alguma melhora na interrupção ou substituição do método.